No ano de 1986 tive o privilégio
de iniciar minhas atividades como professora no CIEP 131, Profª Armanda Álvaro Alberto, no bairro de
Jardim Leal, Duque de Caxias.
Projeto idealizado por Darcy
Ribeiro, antropólogo e intelectual envolvido em conhecer as raízes do povo
brasileiro reconhecia que a educação era única forma de transformação social e
assim buscava tornar a escola um espaço que pudesse suprir as condições
precárias das crianças carentes de recursos, tirar das ruas aquelas crianças que
tinham que trabalhar para ajudar no sustento da família ou estavam simplesmente
esquecidas e abandonadas.
Escola nova a ser inaugurada,
professores novos com experiências diversas e o desafio de implantar um novo
modelo de educação baseado em uma concepção agregadora de oferecer escola
pública de qualidade, com horário integral, participação, envolvimento e
atendimento à comunidade.
Ao tomar posse tive uma grata
surpresa. A orientadora educacional, Margarete, entrevistava os professores
para subsidiar a distribuição de turmas dependendo das experiências anteriores,
formação e visão de mundo. Recebi um convite para iniciarmos um trabalho
pioneiro, fora do script e do protocolo: fazer uma pesquisa de campo, aos
moldes de uma pesquisa antropológica de reconhecimento da comunidade. Eu,
Margarete e Vera nos aventuramos neste universo desconhecido, batendo de porta
em porta, entrevistando as famílias, vizinhos e observando um cenário que não
estava descrito nos livros. Trabalho
belíssimo que desnudava uma realidade dura e cruel. Sempre me emociono ao
lembrar desta época e sinto pena de não ter guardado uma cópia dos relatórios. Mas
estes dados ficaram marcados na minha memória e no meu coração, e de certa
forma me transformaram como pessoa e profissional.
Com base nos dados coletados era
preciso estruturar um planejamento adequado que aproximasse aquelas crianças e
suas famílias do espaço escolar. E assim foi feito. Mas, em todo projeto que
busca uma transformação social é necessário tempo, tempo que foi roubado por
interesses políticos que ofereciam maior visibilidade. Chegava a decadência de um
projeto estruturante e ambicioso.
"Fracassei em tudo o que tentei na vida.
Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os
índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei
fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são
minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu" Darcy Ribeiro
Sou uma defensora do modelo de
educação integral como proposta de reestruturação na educação e na construção
de uma sociedade mais justa e igualitária.
Projetos assistencialistas podem se configurar como uma proposta
emergencial, mas jamais serão objetos de mudanças profundas e necessárias.
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