quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Em defesa da educação integral



No ano de 1986 tive o privilégio de iniciar minhas atividades como professora no CIEP 131,  Profª Armanda Álvaro Alberto, no bairro de Jardim Leal, Duque de Caxias.
Projeto idealizado por Darcy Ribeiro, antropólogo e intelectual envolvido em conhecer as raízes do povo brasileiro reconhecia que a educação era única forma de transformação social e assim buscava tornar a escola um espaço que pudesse suprir as condições precárias das crianças carentes de recursos, tirar das ruas aquelas crianças que tinham que trabalhar para ajudar no sustento da família ou estavam simplesmente esquecidas e abandonadas.
Escola nova a ser inaugurada, professores novos com experiências diversas e o desafio de implantar um novo modelo de educação baseado em uma concepção agregadora de oferecer escola pública de qualidade, com horário integral, participação, envolvimento e atendimento à comunidade.
Ao tomar posse tive uma grata surpresa. A orientadora educacional, Margarete, entrevistava os professores para subsidiar a distribuição de turmas dependendo das experiências anteriores, formação e visão de mundo. Recebi um convite para iniciarmos um trabalho pioneiro, fora do script e do protocolo: fazer uma pesquisa de campo, aos moldes de uma pesquisa antropológica de reconhecimento da comunidade. Eu, Margarete e Vera nos aventuramos neste universo desconhecido, batendo de porta em porta, entrevistando as famílias, vizinhos e observando um cenário que não estava descrito nos livros.  Trabalho belíssimo que desnudava uma realidade dura e cruel. Sempre me emociono ao lembrar desta época e sinto pena de não ter guardado uma cópia dos relatórios. Mas estes dados ficaram marcados na minha memória e no meu coração, e de certa forma me transformaram como pessoa e profissional.
Com base nos dados coletados era preciso estruturar um planejamento adequado que aproximasse aquelas crianças e suas famílias do espaço escolar. E assim foi feito. Mas, em todo projeto que busca uma transformação social é necessário tempo, tempo que foi roubado por interesses políticos que ofereciam maior visibilidade. Chegava a decadência de um projeto estruturante e ambicioso.
"Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu"  Darcy Ribeiro

Sou uma defensora do modelo de educação integral como proposta de reestruturação na educação e na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.  Projetos assistencialistas podem se configurar como uma proposta emergencial, mas jamais serão objetos de mudanças profundas e necessárias. 

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