terça-feira, 20 de setembro de 2016

Educação inclusiva: o desafio dos desafios.


Trabalho há 18 anos formando pedagogos. Nas disciplinas que leciono abordo temas como os transtornos globais do desenvolvimento, transtornos de aprendizagem e outras deficiências de causas diversas.  Embora o foco dessas discussões esteja centrado no diagnóstico e intervenções pontuais em sala de aula, é inevitável falar sobre inclusão, atividade que está longe de ter uma formatação realista e que atenda às necessidades dos estudantes.
Hoje há um consenso por parte de professores e pesquisadores sobre a importância do mediador como agente de aproximação do processo de ensino e aprendizagem.
Um professor regente com 30-40 alunos em sala de aula, por mais boa vontade e esforço,  não terá condições de oferecer um atendimento personalizado ao aluno, que precisa de um tempo diferenciado, de pausas nas atividades e recursos pedagógicos apropriados. Além disso, é preciso desenvolver habilidades sociais específicas para que tenha uma inserção mais satisfatória com os que estão a sua volta.
Conversando com uma mãe de criança autista de 11 anos (aluna incluída no ensino regular da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro ) chamou-me  a atenção alguns elementos da sua fala:
“Eu só queria que minha filha aprendesse a ler e a escrever”
“Minha filha está no 5º ano. No que ano que vem irá para o 6º ano, terá que mudar de escola e terá vários professores, mas ainda não sabe ler.”
“Minha filha é atendida por uma voluntária que atua como mediadora. Só fica metade do período na escola.”
“Fico 4h e 30 min  esperando minha filha na escola, pois ela não fica se eu não estiver por perto. Certa vez a voluntária ficou abraçada com ela no colo  por todo este período... ”    
No ano de 2013 foi aprovado um projeto de lei que criou o cargo de agente de apoio à educação especial.  Foi realizado o 1º concurso em 2014, contemplando 150 vagas.  Somente no início deste ano foram chamados os primeiros colocados, quantitativo insuficiente para atender a demanda de alunos especiais que necessitam de acompanhamento especializado.
Podemos considerar que foi uma boa iniciativa, mas ainda muito distante de um modelo eficaz, principalmente considerando que dentre as atribuições do cargo há uma intercessão entre duas funções: a do cuidador e a do mediador.  Além disso, a escolaridade ao nível de ensino médio não confere a este profissional um perfil adequado para esta função, mesmo  com os treinamentos e capacitação a serem oferecidos por instituição de referência na área.
Há muito que fazer para construirmos um modelo de atendimento que possa ir de encontro ao verdadeiro sentido da educação inclusiva.


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