As
relações de poder e autoridade sempre estiveram presentes nas relações institucionais,
e o espaço escolar não foge a esta regra. Quem me conhece, em especial os meus alunos,
sabe que adoro contar um “causo”. Lembro-me que quando comecei a trabalhar como
professora, a coordenadora pedagógica tinha o hábito de olhar os cadernos de
planejamento semanalmente. Não colocava estrelinhas, mas dava visto e
autógrafo. Numa dessas reuniões, ela olhou as minhas anotações e questionou
vários tópicos, inclusive sobre os resultados esperados. - Como assim Zezé? - Não
trouxe minha bola de cristal! - Como posso prever o desenrolar de uma aula?
Concordo que o planejamento de atividades é
importante, mas não é possível engessar demais, senão corremos o risco de
anular todo um processo criativo. Afinal, se já possuímos as respostas, com que
finalidade temos as perguntas? Não satisfeita, a Zezé começou a bater ponto na minha
sala de aula, desconfiada, incomodada com alguém que pudesse confrontar a sua
autoridade formalmente instituída.
Depois de algum tempo, consegui quebrar aquele gelo e ela passou a ter
uma postura mais flexível. Sala de aula é lugar para se lançar sem medo. Existe
algo mais maravilhoso do que um aluno fazer uma pergunta e você não ter
respostas prontas para dar? Construir e reconstruir significados são tarefas
altamente gratificantes.
Recentemente,
trabalhei em uma universidade e num belo dia de verão, a coordenadora de
disciplinas teve a brilhante idéia de que os professores padronizassem os
slides de suas aulas. Educadamente recusei a sugestão, argumentando os meus
pontos de vista e nem preciso dizer que minha passagem por lá foi meteórica.
Pedi demissão assim que o semestre terminou.
Rebelde,
questionadora? - Que nada! Apenas
apaixonada pelo que faço.
Por
que tanta necessidade de controlar, vigiar e punir? Sempre digo aos meus alunos
que devemos trabalhar com mais dúvidas do que certezas, processo que faz com
que cada aula seja uma caixa de surpresas. Cabe ao professor mediar as relações,
de forma que o conhecimento seja construído de forma prazerosa, possibilitando
questionamentos diversos e, sobretudo, uma postura crítica a cerca da
realidade.
Lembro-me
de uma passagem de um livro do Sennett (Autoridade) que diz que a presença de
uma figura de autoridade é fundamental e muitas das vezes permeada por relações
ambíguas; se por um lado a autoridade atua como elemento castrador, inibidor,
por outro oferece proteção, segurança, de forma que a relação se configura como
necessária e dotada simultaneamente de elementos de atração e repulsa.
Infelizmente, muitas pessoas criam este vínculo, o que inevitavelmente faz
perpetuar esta relação, conferindo ainda mais autoridade.
Já não
bastam as relações de controle instituídas no espaço escolar? Imagine se o projeto da escola sem partido virar
lei.